De Lourdes a Santiago de Compostela

por  OSWALDO BUZZO

8ª Jornada – O Melro


Após deixar Foz do Lumbier, as flechas amarelas me conduziram por uma estrada larga e reta que corta campos ceifados, num bonito planalto. Nesse local trilhei lento, contemplativo, sossegado, por subidas longas e suaves; ao meu lado, muito verde rasteiro, como se fosse um tapete formado pelas flores do campo. Tudo isso encheu meus olhos de paz e minha alma teceu louvores ao Criador pelo carinho que teve, em aliviar o cansaço dos meus pés com visão tão bela.

Uma hora depois cheguei à Nardués e, logo à frente, após ultrapassar a pequena vila de Aldunate, ouvi pela primeira vez o canto do Melro no Caminho. Era um final de manhã de abril, primavera européia, e um vento suave soprava do norte, resfriando o ar.

Atravessava eu um extenso bosque de pinheiros em direção ao Alto de Loiti, quando sua voz ecoou maviosa e altaneira pela mata fechada. De imediato, como que em respeito à aquele som, todos na floresta se aquietaram, certamente, em homenagem ao seu melodioso e refinado gorjeio, que se propagava docemente pelo espaço.

Instantaneamente, sustei meus passos e permaneci silencioso, ouvidos atentos, extasiado. Aqueles trinados perfeitos reconduziram-me à infância já distante e, repentinamente, me senti novamente um menino, e essa lembrança inundou meu espírito de alegria e paz.

O pássaro entoava com entusiasmo seu sobranceiro e tardio hino matinal, provavelmente à procura de uma companheira com o fito de se acasalarem, perpetuar a espécie. Por inesquecíveis minutos, permaneci estático, escutando a melodia, fascinado, sem sentir o tempo passar, envolvido por uma atmosfera irreal, feita de sonho e eternidade.

De repente, uma brisa passou por mim, farfalhante, trazendo em seu bojo o perfume de flores recém desabrochadas, fazendo-me retornar à realidade. Então, segui em frente, mas o coração ia leve, agradecendo a Deus pelo momento único vivido naquelas distantes paragens.

E tem mais:

E tem muito mais ainda...