por Zerob Peregrino
Tudo começou quando nasceu em mim o sonho de percorrer o Caminho de Santiago. Nem sei precisar bem quando isto ocorreu. É um sonho que nasce aos poucos e cresce dentro da gente até se tornar tão forte que toma vida própria...
Não.
Nada disso. Aqui não é o lugar para falar de como o Caminho nasceu em mim, mas sim de como nasceu este site, que foi por muito tempo a maior referência sobre o Caminho de Santiago no Brasil, o que muito me orgulha.
Da
mesma maneira que cresceu em mim a vontade de fazer o Caminho, ele continuou a fazer parte da minha vida quando retornei. Antes de completar um ano de retorno, tudo em mim havia mudado. O que antes só me faltava enxergar,
o Caminho descortinou. Ele me apresentou um mundo novo e mais feliz. Foi tudo tão... Tão milagroso mesmo, que eu tinha que agradecer. E eu sabia que tinha esse dever.
Fiz o Caminho em 1995. Naquela época, poucos
brasileiros já o haviam feito. Alguns escreveram livros sobre o assunto que me ajudaram bastante a colher informações para o planejamento da minha viagem. Foi então que comecei a escrever o que pretendia que um livro se
tornasse. Mas já nas primeiras páginas eu não sabia que rumo tomar e nem em que ritmo evoluir. Tinha tanto a dizer. E não era apenas o trivial, eu queria registrar os sentimentos. Tentei muito e só me angustiava diante
de minha própria incapacidade. Não encontrava os adjetivos que representassem tudo o que sentia. Ou ficaria algo falso, piegas, novelesco, ou por outro lado, frio e apático.
Pensei em descrever as transformações
que ocorreram em minha vida, mas a maioria delas habitava minha intimidade. E ainda rolou um sentimento de traição ao Apóstolo Tiago, meu cúmplice nessas mudanças. Além de correr o risco de interpretações diversas. Alguns
julgariam como plena ficção o que para mim era um documentário emocional.
A internet acabara de sair dos meios científicos e acadêmicos e invadia nossos lares. Muitos ainda não aceitavam as mudanças que ela trazia
e por desconhecimento, a desmereciam. Contudo, para mim parecia fácil concluir numa primeira análise o que a internet viria a se tornar. No mínimo, como ela evoluiria. Foi então que abandonei a idéia do livro e resolvi
dar os primeiros passos em um site.
Como eu era um praticante ativo do ciclismo de montanha, fiz o Caminho de bicicleta, o que era mais complicado ainda de fazer naquela época. Não havia informação alguma sobre
o assunto. Os poucos livros eram de peregrinos que fizeram à pé.
Pois bem, o Portal Peregrino inicialmente veio com essa finalidade. Ajudar a quem tivesse um sonho semelhante ao meu. Foi assim então que o site nasceu
em junho de 1996 com o nome "Caminho de Santiago em bicicleta".
Pra não deixar que história fique esquecida, reproduzo aqui neste capítulo o seu conteúdo original com poucas adaptações. Não para modificar o que relatei
na época e nem as dicas que achei fundamental compartilhar. Ainda acho que está bem atual, neste ponto. Só retirei o que hoje, por desatualização, não mais faz sentido divulgar.
O site fez sucesso. A partir dele,
reuni um infinidade de peregrinos no Brasil e no mundo (ah! Esqueci de dizer que naquela época fazíamos versões em outras línguas. Além do português, escrevi uma versão em espanhol, e minha mulher escreveu uma versão em
inglês). A partir de então, montei grupos de estudo e trabalho pela divulgação do Caminho, fundei com outros peregrinos a Associação Brasileira de Amigos do Caminho de Santiago, dei várias palestras, participei de inúmeros
encontros em seminários aqui e na Espanha, reuniões, grupos de discussões, e até tertúlias na Universidade de Santiago de Compostela, etc. Mas isso é assunto para outros momentos. Só queria com isso justificar a transformação
de um site que nasceu individual para um Portal que reuniu as informações e os sentimentos de inúmeros peregrinos.
Aqui neste capítulo resguardo a origem do Portal Peregrino. Espero que curtam.
Um verdadeiro naufrágio de minhas projeções egocêntricas. Antoin Kalil
Como saldo positivo trouxe comigo o conhecimento de meus extremos. O. Buzzo
É sempre bom saber o que se vai encarar pela frente a cada etapa.
A preparação necessária para o peregrino manter-se fiel ao seu sonho.
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