Pequena História de Santiago

por Walter Jorge

A pregação de Tiago na Espanha (terceira parte)


Em artigos anteriores, informamos da perfeita interligação da pregação do Apóstolo Santiago com a escolha pelos seus discípulos em levar o seu corpo para a Galícia, não poderíamos abordar um sem falarmos do outro; nesse artigo daremos continuidade às informações colhidas sobre a sua pregação e o seu retorno a Jerusalém.

As lendas populares recordam a presença de Santiago em cumes próximo a Vila de Padrón, onde existia o culto às águas. Ambrósio de Morales no século XVI, na sua “Viagem Santa”, diz: “Subindo a montanha, na metade da ladeira, existe uma igreja na qual o Apóstolo orava e dizia missa e debaixo do altar maior saia para fora da igreja uma fonte com um grande volume de água, a mais fria e delicada que eu vi na Galícia”. Esse lugar existe na atualidade e recebeu o carinhoso nome de “O Santiaguinho do Monte". Um dos autores dos sermões recolhidos no “Códice Calixtino”, aludindo a predicação de Santiago na Galícia, menciona “o que vão venerar as gentes, Santiago, filho de Zebedeu, da terra da Galícia envia o céu estrelado”.

“Santiaguinho do Monte” nas proximidades de Padrón, local onde segundo os historiadores Santiago efetuou suas pregações na Espanha


Sua pregação no continente europeu durou pouco, cerca de sete a onze anos não se sabendo ao certo sua duração. Não tendo conseguido um grande número de convertidos ao cristianismo – seus discípulos conhecidos eram apenas sete, segundo alguns e nove, segundo outros: Teodoro (que alguns historiadores o chamam de Torcato, Torcuato ou Torcuatus); Atanásio (Anastásio); Cecílio (Cecilius); Hesiquio (Ysicius – Esiquio); Eufrasio (Eufrasius); Tesifonte (Tissephons); Idalecio (Indalecius), Epitácio, e Secundus, os conhecidos.

Segundo a tradição ou por assim dizer as lendas, foi em Muxía que Santiago pensou seriamente em retornar a Jerusalém, triste quedava a pensar qual o caminho mais fácil para o seu retorno, foi quando ao fixar seus olhos no horizonte, viu aproximar-se uma barca que parecia chegar do “Fim do Mundo”. Quando a mesma estava bastante próxima, verificou que a embarcação era constituída de pedra e que nela vinha Nossa Senhora para buscá-lo; a Virgem dirigindo-se a Santiago deu-lhe ânimo para seguir a tarefa que se havia imposto, assegurando-lhe que tanto ela como seu Filho, estariam sempre a seu lado para reconfortá-lo nos momentos em que sentisse que ia desfalecer, dito isso se esfumaçou no ar deixando como prova, “A Pedra dos Cadrises” que a tradição informa ser a quilha da embarcação e “A Pedra d´Abalar” que é considerada a sua vela. A primeira tem a fama de ser um santo remédio para as dores das costas; enquanto a outra, uma pedra plana e oscilante, tem a propriedade de se mover quando alguém a pisa sem pecado, e se permanece firme é pecador quem nela subiu.

Santiago com novo ânimo abandona a região norte na qual estava pregando e se desloca em direção às cidades Célticas do Centro. Nada conseguindo, depois de um certo tempo, Tiago decide voltar para Jerusalém acompanhado de seus dois discípulos mais próximo, Teodoro e Atanásio dando por encerrada sua pregação na Espanha, deixando, no entanto plantada nestas terras distantes, a primeira semente que viria a florescer pelos séculos futuros.

Historiadores tudenses informam que a tradição assinala ter o Apóstolo pregado em Tuí, ponto de entrada da rota portuguesa na Galícia, inclusive teria o mesmo designado um de seus discípulos, São Epitácio, como primeiro prelado tudense.

Durante a sua pregação na Península Ibérica, fundou duas Igrejas, a de Padrón e a de Muxía, consagrando-as a Virgem. Padrón é uma vila situada no sul da província de La Coruña, onde se encontram o rio Sar e o Ulla. No séc. I d.C., ainda conhecida por Iria Flavia, essa cidade constituía um importante centro urbano, pois os romanos interessavam-se pelo privilegiado cruzamento de seus caminhos com a proximidade do mar. Sua volta a Terra Santa, seria pela via Romana de Lugo o melhor caminho para cruzar a península, seguiu por Astorga e Zaragoza.

A imponente Basílica de Nossa Senhora do Pilar em Zaragoza, cuja capela que deu origem à mesma foi fundada por Tiago em devoção a Virgem Maria


Na noite de 2 de janeiro do ano 40 d.C., estando Tiago bastante abatido descansando à beira do rio Ebro, recebe novamente o consolo e alento da Virgem Maria para consolar-lhe da teimosia dos espanhóis e sua dureza em admitir a fé em Jesus Cristo, ouve vozes angelicais entoando “Ave Maria”. Quando então teve a visão da Virgem Santíssima, entre um coro de anjos, sentada num pilar romano de quartzo, indicando-lhe o local onde deveria construir uma capela à sua devoção.

Tiago então edificou a primeira capela para a devoção à Virgem Maria. Naquela oportunidade Maria Santíssima ainda estava viva, ela só veio a falecer 11 anos após. Com o passar dos tempos à capela foi denominada de Santa Maria Extramuros e depois como Santa Maria A Maior. O termo Santa Maria do Pilar aparece no apêndice do livro dos Morales de São Gregório no século XIII. Atualmente a Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Zaragoza, hoje Basílica, é um dos mais importantes Santuários do catolicismo hispânico e um dos mais suntuosos templos da Europa.

Após a construção da Capela, Tiago segue pelo rio Ebro dirigindo-se para a Valência onde embarca num porto murciano ou na Andaluzia de volta a Palestina mais ou menos nos anos 42-44 d.C.

Por mais que tivéssemos pesquisado, o verdadeiro trajeto efetuado por Santiago na sua pregação pela Península Ibérica, continua a ser um mistério, apenas encontramos referências a alguns locais por onde esteve. Quanto ao seu retorno a Jerusalém quase nenhuma informação conseguimos após a sua passagem por Zaragoza, pois, as lendas tomam lugar das informações acreditáveis.

No próximo artigo abordaremos a chegada de Santiago em Jerusalém e a sua decapitação por ordem do rei Herodes Agripa I.

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