As Peregrinações (segunda parte)
As peregrinações ao Túmulo do Apóstolo Santiago sucedia-se em um rítimo contínuo, peregrinos partindo de diversos pontos convergiam na cidade de Santiago de Compostela, a mesma crescia com base nas doações e no “Voto do Privilégio”,
surgiam várias povoações ao longo do caminho, o número de Albergues, Mosteiros, Abadias, Igrejas e Hospitais aumentavam para permitir atender a demanda.
Vejamos a continuação do desenvolvimento das peregrinações.
A
enorme afluência dos peregrinos que arrastavam consigo um número também crescente de mercadores, de acordo com o desenvolvimento comercial da Europa naquele tempo, fez com que se considerasse seriamente a rede viária que lhe
permitia chegarem a Compostela. E assim, segundo nos conta a história Silense (por volta de 1110), Sancho III “o maior” de Navarra, teve o cuidado de garantir um novo caminho em direção a Santiago, livre do perigo das incursões
muçulmanas, e mais ameno (de Pamplona a Nájera, e daqui provavelmente a Briviesca e Burgos) que os viricuetas até àquela altura seguidos por terras de Álava. Ao facilitar-lhes o caminho, estes reis e outros que vieram
depois deles, ajudaram os peregrinos para que estes pudessem chegar em maior número e com menos dificuldades a Santiago.
Quatro cidades francesas ficaram conhecidas como sendo pontos de partida tradicionais, pois recolhiam
peregrinos da Inglaterra, Alemanha, Itália e Países Baixos, que são: Tours, Vézelay, Le Puy e Arles. Essas vertentes do Caminho de Santiago foram denominadas respectivamente de “Via Turonense” (partindo de Paris passa por Tours
chegando a Ostabat); a “Via Lemovicense” (parte de Vezelay até Ostabat); e a “Via Podiense” (sai de Le Puy até Ostabat). Essas três vias encontrando-se em Ostabat atravessa os Pirineus pela pequena cidade francesa denominada
de Saint Jean Pied-de-Port e segue até Puente La Reina onde se encontra com a “Via Tolosona” que partindo de Arles atravessa os Pirineus por Samport, até encontrar-se com as demais em Puente la Reina, uma cidade já em solo
espanhol, tornando-se um só caminho até Santiago de Compostela, chamado de “Caminho Francês”, quase que em uma linha reta diretamente sob a Via Láctea.
Por volta do ano 1000, se observa na Europa cristã um notável progresso
que se baseia num forte crescimento demográfico, na extensão das áreas cultivadas e no aumento da produtividade. Incrementam-se os contatos entre as populações, crescem o comércio e as cidades. A Península Ibérica, que dispõe
de extensas terras incultas e de produtos muito bem cotados nos mercados, oferece claros atrativos, quer aos guerreiros, quer aos mercadores. “Piedade e interesse aparecem deste modo misturados na peregrinação a Santiago cuja
importância se manterá enquanto a Península puder oferecer aos peregrinos algo mais que a satisfação da sua religiosidade” assim se expressou José Luis Martín Martín.
No final do mesmo século, o rei de Castela e
León, Afonso VI “o bravo” (1065-1109), amplia o sistema de assistência aos peregrinos com a instalação de novos abrigos, dando todo o apoio a Santo Domingo para conservar as estradas no território castelhano, bem como restaurar
todas as pontes que tinham de atravessar os peregrinos para transitar no seu reino, além de incentivar a fundação das primeiras ordens militares destinadas a dar proteção aos peregrinos.
Com o aumento no número de peregrinos,
junto com os fiéis vieram também ladrões, salteadores de estradas e todos os tipos que, com sua esperteza, abusavam da boa fé dos andarilhos. Nessa oportunidade para manter a segurança do caminho, criou-se em 1170 a “Ordem
dos Cavaleiros de Santiago”, inicialmente denominada de “Irmãos de Cáceres” ou “Cavaleiros de Cáceres” cujos cavaleiros eram encarregados da vigilância da rota através da Espanha. Posteriormente em um artigo à parte, daremos
informações mais detalhadas, por ser uma Ordem que utilizou o nome do Apóstolo. A “Ordem dos Templários”, um pouco mais antiga, e com a mesma finalidade de proteger os lugares santos, veio também mais tarde proteger o Caminho,
sobre a qual reservamos um artigo no qual abordaremos as suas construções ao longo da Rota Francesa das peregrinações.
Por volta de 1135 surge a primeira obra escrita pelo padre Aymeric Picaud, que peregrinou a Santiago
de Compostela, a cavalo, provavelmente com o apoio da poderosa Ordem de Cluny. Estas crônicas eram intituladas “Liber Sancti Jacobi”, mas pôr serem dedicadas ao Papa Calixto II, passaram a denominar-se “Códice Calixtino”. Sobre
a mesma posteriormente daremos maiores informações.